São Paulo, 29 de abril de 2013.
Na cidade em que se anda olhando para cima, há de se ter cuidado com o
resto do mundo.
Pessoas que vão e que vem, para onde elas mesmas não sabem. Os passos
são rápidos, os olhos atentos, curiosos, profundos, vazios, distantes, perdidos. O tempo passa lento, enquanto tudo gira
como um dia breve que fosse acabar de repente.
Cada um vive como se fosse único, especial, fazedor da diferença. E no final das contas? Ninguém se diferencia. Somos todos as mesmas formigas carregando folhas pesadas ao longo dos dias. Mantemo-nos no papel que não desejamos e nos enganamos por achar
que não fazemos parte da massa idêntica. Nesta cidade particular, 'ser' é raro. Aqui em geral se finge.
Finge que se têm amigos. Finge que se tem dinheiro, finge que se é
diferente, finque que é feliz, finge que se é turista, finge que ...
Há a liberdade ilusória de ser, não se é permitido ser, mas aqui hoje,
sou. Sou por que não origino daqui. As regras não me incluem, aqui posso.
Os prédios particulares tentam também diferenciar-se entre si. Uns são
maiores, outros mais tímidos e elegantes, enquanto outros não se acanham em
mostrar sua onipotência, que no final das contas acaba por ser feia e
arrogante. Vejo pilotis, varandas verdes, imagino-me dentro delas. Imagino-me
dentro dos apartamentos vivendo minha vida como deve ser, tranquila, ocupada,
com o mundo aos meus pés e a cidade disposta a realizar meus desejos. Minha
vida é um paradoxo.