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22 de outubro de 2013

À memória.

E viva a falta de memória que nos faz viver tudo como se fosse a primeira vez. Seja para alegrar os corações que se acostumaram com o neutro, ou para nos fazer ter a força de continuar a vida. Afinal de contas, a esta altura do campeonato, já estamos de acordo que "brincar" de ser gente não é uma tarefa lá muito fácil, e terminar isso tudo ileso, além de impossível, me permite pensar que foi quase que uma vida deitada em um colchão de penas fofas, a sombra de uma varanda que protege das interpéries, mas que esconde a vista do mundo. 
E viva a memória que não nos permite cometer os mesmos erros e nos deixa sentir por mais vezes aquilo que nos aquece o espírito. À  minha memória, tenho meu futuro. Ao me (re)mostrar todo o processo, me traz de volta a vida, aquela vida que faz ter cor, coragem, amor, vontade, intensidade e aquela agonia feliz que roça lá dentro. O ar enche os pulmões e o mundo de repente fica mais otimista. Só quando a dosagem da memória é demais e os pormenores de um lado menos interessante, mas não desnecessário são mais intensos, as coisas dão uma cambaleada de lá para cá, como bêbado de rua que parece que vai cair, mas continua em pé.Mas afinal, que bêbado de rua não carrega tua melancolia com certo gosto? 
Não sei escrever, tampouco falar. Quando se fala, a especialidade das coisas de lá de dentro se dissipam, espedaçam, deixam de existir. As palavras obviamente são medíocres, as expressões estão sendo julgadas e a transmissão do pensamento, torna-se algo inevitavelmente impossível, a não ser que você o faça com aqueles raros encontrados por aí, que dispensam qualquer linguagem.
Continuo sem saber e escrever e mais ainda sem saber falar. Seria então falar a palavra certa? Ou seria errado a quem se fala? Há quem não saiba ouvir. Tarefa difícil esta, tanto quanto a anterior, mas não seriam as duas desenvolvidas juntas?
Com muito cuidado, penso nas palavras certas a serem ditas, buscando exatamente fazê-las ser uma parte de mim, com o objetivo de fazer com quem as ouve, consiga facilmente assimilar o que digo, ou podemos dizer melhor, me assimilar. Tarefa perdida. Cada palavra especialmente dita, me soa extremamente vulgarizada e vazia. Não se preocupe, eu gosto mesmo de conversar, mas não sei mais fazê-la. Não leve para o lado pessoal. É o que está aqui que ainda não precisa sair. Vai ficar o tempo necessário.
À memória eu escolho um pouco mais do silêncio.

Ao tentar falar por algum tempo sem sucesso, sinto a vontade de compartilhar alguma coisa por aqui. As utopias são necessárias, que sejam 'feitas' com vontade!


Um comentário:

  1. Você escreve lindamente, seus relicários ganharam sutileza, sua percepção parece sábia, escolha perfeita das palavras... :Te admiro.O que eu tenho como verdade é o que parece que já veio de antes, e a memória também abrange essas existências, os sonhos, os sentimentos. É assim que eu te tenho na memória.

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