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9 de março de 2013

O passar do tempo.

Desde há algumas semanas atrás, venho cantando mentalmente uma música que muito me intriga e me agrada, esta é de um famoso e respeitado cantor brasileiro, chamado Chico Buarque, e todo brasileiro que se preze conhece e o admira seja pela tua capacidade de 'transformar' o cotidiano banal e sem graça dos brasileiros em poesia e canção, pela tua inteligência ou mesmo pela tua história. Obviamente o talento e a inteligência do mesmo é indiscutível e a cada dia vivido, cada música escutada e a cada palavra absorvida sinto-me mais próxima da história de quem seja, contada em suas canções.
Pensando inevitavelmente em questões como o cotidiano que os brasileiros levam e que hoje eu pela força do sistema também estou inserida, me fez refletir (mais) sobre tudo, do que já antes refletia. 
Todos os dias acordo, com sono, cansada, penso, tento não pensar tanto, tomo café, ando a rua mal feita, pego um ônibus velho e mal cuidado, perco quase uma hora do meu dia para chegar ao meu primeiro destino do dia. Faço o que tenho que fazer, faço feliz, mas não tão completa. Almoço, penso em poder parar, mas não posso então, calo-me (literalmente com a boca de feijão) e continuo fazendo o que eu tenho que fazer. Chego novamente ao meu destino final, faço o que tenho que fazer, ouço coisas que não quero ouvir, culpo-me por coisas que não sou culpada e obrigo-me a estudar coisas que no fundo da minha essência não me farão nenhuma diferença. Chego em casa no final tarde, cansada, exausta, feliz? um pouco. Nem tanto. Gostaria de passar menos tempo trabalhando, andando de ônibus, pensando coisas que não preciso realmente pensar. Mas são as regras do ofício, tudo isso é necessário. Será mesmo? Para que? Por que? Para quem? Para quando?
E mais um dia durmo com tanto questionamentos na minha cabeça, ponderando se realmente tudo isso vale a pena. Na verdade, sempre soube que não, o que me ajuda a não desmanchar em meio a este caos que chamam de cidade, que chamam de sociedade, que chamam de arquitetura, que chamam de qualidade de vida ou que chamam de qualquer outra coisa, que eu prefiro chamar de 'cachorro que corre atrás do rabo'. Todos em busca de um lugar ao sol, que sol, se o sol que brilha para mim é o mesmo que brilha para ti, na mesma intensidade e ângulo. A grande verdade é que ninguém quer saber da verdade, a verdade é que há um tempo atrás, onde vivíamos um país em uma situação econômica pior do que hoje, todos sonhavam com a vida americana de ser e hoje, todos tem um pedaço de vida americana. Emergentes que hoje podem bancar por bens materiais, tecnologia, boa comida, viagens, roupas e a maior ilusão vivida por um brasileiro, o status. Para obter status basta deixar de lado alguns ideais, valores, pudores e princípios, basta ser quem você não é e fingir ter o que você não tem. Por que ser assim, se todos são assim? 
Gostaria de escrever melhor, gostaria de poder expressar melhor meu ponto de vista sobre o cotidiano, sem parecer indignada, revoltada ou algo que desmereça minha opinião sobre tudo que vejo e que poucos veem também. Gostaria de entender, por que, apesar de, sabermos que todos estamos no mesmo barco, alguns ainda são convictos de que estão imunes ou livres do cotidiano que o mundo foge?
Mas não foi por isso que comecei este texto. Comecei de fato, por que senti saudades. Senti saudades de um tempo em que vivi um cotidiano que me fizesse feliz. Longe daqui como esperado, longe de todo o bolo que cresci, distante de todo o cotidiano que vi ao crescer, que todos vivem, que todos se contentam e que hoje eu vivo. O cotidiano daqui, me obriga a viver uma segunda-feira como se fosse dia de luto. Não por que morreu alguém importante, mas é por que é regra social nacional, de que na segunda-feira (terça, quarta..) não se pode fazer nada que se dá prazer (obviamente não é 100% da população, talvez uns 3% façam diferente). A quinta-feira já podem começar os 'Happy hours', a sociedade já permite atividades mais prazerosas. E a sexta-feira é o dia nacional de fazer alguma coisa, tomar uma cerva barata, dançar e tudo mais. No sábado pode acontecer um encontro na piscina e o domingo, deixa que o domingo já começam as preparações psicológicas para o resto da semana. E assim vamos vivendo, procurando brechas durantes os dias da semana, tentando entre estes espaços, nos encontrar, achar esperança, felicidade e prazer em viver o cotidiano, esperando as férias depois de um longo e árduo ano de trabalho, vive-se um mês de devoção total ao fazer nada, sentir a vida, sentir as pessoas, sentir a natureza, sentir a si mesmo para novamente começarmos o grande objetivo da nossa vida terrestre, comprar, ter, obter, manter, prosperar, guardar, poupar, acumular. 
Como já dizia Chico Buarque, 'todo dia ela faz tudo sempre igual.....'
E o passar do tempo, me fez sentir falta do meu cotidiano passado, que sei conscientimente que não deve ser vivido agora, mas que pode ser vivido novamente.


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